sexta-feira, 16 de março de 2012

Poesia para salvar afogados

Certa vez ao conversar com uma amiga fui questionado “para que serve a poesia?” mas não pude pensar em coisas que talvez não fosse entendidas. Lembro-me agora do que disse o mestre Mário Quintana: “que faz um verso salva um afogado”. Somos nós os primeiros afogados, retiramos de nós algo que nos afoga, que nos impede de ser completos. O grande mestre talvez nunca tenha percebido o sangue em suas veias, verias nelas todo um mar que cobre a mente e faz flutuar em algo desconhecido.
Em cada ser ocorre de modo distinto, mas que se ligam ao salvar afogados, cada ser reage de forma antropofágica, reúnem em si tudo o que vêem, sentem, vomitam, experimentam.
Minha mente em pedaços procura entender a verdadeira necessidade de escrever tais coisas, que em certos momentos se fazem tão diferentes em minha mente quanto posso suportar. Penso eu algumas vezes ao ler-me, que tamanha liricidade não poderia fluir e talvez aqueles versos fossem apenas algo em comum, um mero descuido. E noutras, também penso que versos vindos de mim só poderiam dar nisso, nesses versos de tamanho sonambulismo de minha mente, loucos de tamanha disformidade que insultaria a verdadeira poesia.
Versos, estes meus, cantam minha vida, não somente ela mas todo fio de memória que por mim passa. Mais louco seria se os vivesse completamente. Percebo então que não é minha vida que se faz de versos, e sim minha mente que esquizofrenicamente luta por transformar-se em poesia. Estes versos fazem-se meu diário, um tanto quanto louco, mas meu, sem perturbações histéricas de como ou não devo proceder, apenas meus, como eu os quero. Da mesma forma como os tenho em minha mente em todos os momentos em que vivo, minha mente não para de pensar versos alucinados, minha mente volta e meia me surpreende com a mais bela construção poética que se perde no meu entusiasmo e na falta de memória. Por falta de memória já perdi grandes poemas, por descuido, por não ter sempre comigo lápis e papel.
Penso em escrever tudo que vem em minha mente, pena que não o possa fazer, meus versos que outrora se faziam livres de todo o pensamento, apesar se lançavam sobre o papel, tão falados quanto dispersos aos vultos de meus pensamentos. Mas não os desprezo pois sei que com eles me vi em uma nova realidade, que se distorce a cada momento. Não busco apenas versos belos e cheios de complexidade, quero tudo que minha ânsia lírica possa me dar, tudo que meus olhos possam contemplar.
Falo o que vem nessa mente cheia de loucura, não sei mais o que sou diante de meus pensamentos, cada vez mais disformes, cada vez mais psicodélicos, “girando como o mundo e meu cabelo”. Quem poderia pensar que uma pessoa que aparentemente não tem nenhuma aptidão especial se faz pensados do mundo em seus versos.
Massagens no ego não sei se para minha poesia são boas, mas escutar meus versos sendo aclamados, me deram grande alegria, não sei mais o quê.
Não sei mais para que escrever, mesmo pouco que tenho escrito, não fazem sentido, escrevemos para que leiam, não para depois num ato de egoísmo lermos nossos rascunhos de pensamentos.
Para que fazer versos? Para ficar no esquecimento? Para não poder ouvir depois que fazia algo de útil? Não quero ficar com meus versos só em minha mente, quero poder solta-los pelo mundo para que possam conhecer outros versos, contemplar toda a grandeza de versos já escritos e eternizados. Meus versos, esses infantes, não sabem a realidade do mundo fora dessa janela, não conhecem outro mundo senão através do reflexo da lua. Ingênuos versos, esses meus, gritam roucos pelas madrugadas, sem ouvintes.
Angústia, tamanha. Não agüento ficar sem meus versos, sem a novidade, sem poder tornar meus versos reconhecidos, ficar nas sombras, escondido na madrugada como quem busca roubar mentes que flutuam inocentes, não me fazem puro. Busco a purificação, não mais posso pensar em correr com meus versos sem algo que me faça puro, mas o que será realmente a pureza? Será que é toda poesia que flui de mim como o ar que respiro?
Vejo que a poesia não é algo que se explique, a poesia se vive! Pensar numa serventia para poesia nada mais é que pensar numa serventia para o que vivemos, pensar numa serventia para o que pensamos. Poesia, não só o lirismo, mas fundindo esse com os sonhos, daí teremos algo para usar em nossas vidas.

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